terça-feira, 22 de novembro de 2011

Agora

Chega a hora, o instante. Imaginar já não basta. Aprender também, mas fazer da palavra o avesso do verso, da prosa, o existir primeiro do que se viu e sentiu. Encantar o cotidiano com as letras e os sons que vibram junto, que pulsam a cada batida no peito, a cada sopro de ar que expiramos e inspiramos.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

por escrito

Algumas pessoas derramam lágrimas, eu espalho letras numa página branca. E às vezes é como um choro. Absurdamente nem existem motivos, nem sequer a página branca literalmente. É em vão. Significo cada palavra, como se fosse cada um dos silêncios.

E depois de uns dois parágrafos, esses soluços mais espaçados, dão conta de certo alívio que é transmitir o peso do sentir para o sentido de cada frase; uma oração. Sinto-me absolvida pelas intenções nunca claras, nunca óbvias, nem para mim. Ladainha finda,  faço côro a essa prece:

“- Deus pai, me cura da ilusão.”

domingo, 21 de agosto de 2011

sobre nós

Tudo aquilo que nos impressiona, no surpreende, achamos bonito ou feio, parte de algo que está em nós, uma experiência, um desejo, uma idéia ou qualquer coisa que nem suspeitamos, mas existe primeiro em nós e ressoa naquilo que vemos, ouvimos e sentimos.
(Fala minha,  um trecho de conversa )

E todos partimos de um enredo próprio em busca de enlaçar a cumplicidade com o outro, mas de fato nunca podemos ultrapassar o ponto de incerteza encerrado pela individualidade de cada um. E só podemos ir no tato, intuindo, percebendo onde se dá a ligação, a sintonia. São milhas e milhas a serem trilhadas pelo afeto, de outra forma, só apertaremos mais o nó e estaremos distantes do pronome que cabe dois, que aproxima que expressa o vínculo: nós.
(Texto meu, inspirado no trecho acima e na definição abaixo)


(latim nodus, -i)
s. m.s. m.
1. Laço apertado.
8. Embaraço (na garganta) que obsta engolir.
9. [Figurado] [Figurado] Ponto em que está a dificuldade.
10. Embaraço, estorvo.
11. Vínculo, laço moral.
12. Enredo.
13. Ligação, enlace.
14. [Marinha] [Marinha] Milha.
Plural: nós.
                             (Definição do dicionário online Priberam)

quarta-feira, 4 de maio de 2011

palavreando

Estive distante da escrita aqui, porque estive mais próxima da minha própria letra, da minha idiossincrasia, essa palavra difícil de lembrar e esquecer que significa o que temos de mais nosso, de único que nos diferencia de todos. Não é fácil entender  o sentido literal, nem sentir, nem sentir-se com todo esse pulsar do próprio ser.  A compreensão se amplia mais com a aceitação desse ritmo próprio, desse  olhar, desse modo de existir que só cabe a cada um conhecer e fazer. Não é leve, às vezes, carregar esse amor a si mesmo, com suavidade. É possível. O meu modo é buscar o caminho, o carinho, a liberdade rodeada de dúvidas; é cantar enquanto ando, é contar e ouvir ao mesmo tempo; é só letrar, soletrar a maneira mais doce de se ver e viver.

quarta-feira, 30 de março de 2011

"Sou fuga para flauta de pedra doce. A poesia me desbrava. Com águas me alinhavo."
Manoel de Barros

sábado, 12 de março de 2011

tecido

O exercício da escrita   faz nos percebermos plurais, múltiplos, passíveis de erros e de mudanças, acalenta ternamente nosso desejo de perfeição em meio aos ensaios, aos rascunhos, às tentativas. Estende nosso olhar compassivo para além de nós, para o outro, para o mundo. Humaniza-nos mais, permitindo apreciar o que retratamos, o que relatamos, o que sentimos; com a distância necessária para a compreensão, para o entendimento dos processos que desencadeiam os atos, os fatos, os afetos. Escrever está intimamente relacionado a maneira como percebemos a vida, enquanto também altera esta leitura e amplia ou modifica o nosso entendimento a respeito das coisas vividas.  É conhecimento. É autoconhecimento. É a magia da palavra.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

bordados

Estava querendo postar algo aqui, pra não desanimar, calhou de acontecer algo que me fez pensar na ténue linha que é relacionar-se, familia ou amigos, ou amados; sempre nos é tão difícil dosar a força com que puxamos essa linha, ou equilibrar-se nela sem pender ou quebrá-la. Penso que com estranhos é mais fácil, porque somos polidos e mantemos uma distância segura e respeitosa, mas a intimidade nos deixa perto o suficiente das pessoas que mais gostamos ou que mais con-vivemos e não permite a distância necessária, às vezes, pra medir a força de nossas palavras e atitudes nos sentimentos daqueles a quem os remetemos. Mas é assim, temos que contar com a compreensão e uma certa alteridade, onde nos colocamos no lugar do outro e vice versa, é imprescindível nos colocar-mos sob diferentes pontos de vista. Para nos relacionarmos,  definitavamente,  não podemos negar esse giro de um mundo a outro. É preciso experimentar ao menos em consciência o que o outro está enxergando para que possamos entender o porquê do afeto que parte de nós, ou que nos chega. Não fui clara, mas valeu divagar, devagar, vagar em pensamentos...